A maior parte do tempo em que estive nas empresas, como gestora de RH, eu acreditava que deveria esconder e eliminar os conflitos que chegavam até mim como desabafo, conversa de pé de ouvido.
Tínhamos uma crença, um pressuposto, que se falássemos em voz alta os tornaríamos maiores, insustentáveis. Pensávamos que isso poderia gerar problemas de relacionamento e que afetariam o negócio. O que não é verdade, pois a ausência de conflitos é um dos cincos desafios mapeados por Patrick Lencioni, no livro “Os 5 Desafios das Equipes”. De acordo com ele, “é necessário reconhecer o conflito de ideias como algo produtivo, onde todos os membros têm como objetivo chegar a melhor solução possível no menor período de tempo. Equipes sem conflito podem guardar para si o que gostariam de discutir, gerando tensão”.
Tabus e ausência de conflitos impedem o fortalecimento e a busca de resultados das equipes, não podemos colocá-los debaixo do tapete. Pois mais cedo ou mais tarde iremos tropeçar neles.
Conflito é matéria prima para o crescimento de um grupo, pois onde há divergência de ideias, há discussões e reflexões. Pois as pessoas usam caminhos diferentes para chegar ao mesmo lugar e durante esta caminhada, acumulam conhecimentos, aprendizagens e experiências, que na verdade é o que as define e a cultura.
Claro que isso é um exercício, é preciso fazer de forma orientada, é preciso ter um facilitador, alguém que consiga enxergar o grupo. A melhor forma é o ouvir, ouvir de verdade, sem filtros e sem julgamentos. Ouvir o que realmente está sendo dito e não o que eu acho que está por trás da palavras. Ouvir de mente e coração abertos e não ficar montando a fala de desconstrução do que está sendo expressado e até quem sabe, perguntar-se: será?
Quando comecei a trabalhar na Confluência esta foi minha primeira preocupação. As crises que seriam geradas a partir das questões que eram levantadas, pelos indivíduos, nos trabalhos em grupo.
Os meus colegas Confluentes diziam ser necessário que isso acontecesse ali, pois era um ambiente seguro e que todos deveriam se expressar, as pessoas eram orientadas a cuidar uns dos outros, pois arena é lá fora, no grupo somos aliados.
A Confluência têm ao longo dos seus 15 anos, ajudado as empresas a crescer e se reinventar, trazendo excelentes resultados, entre outras coisas, desenvolvendo o sentimento de grupo, fazendo emergir o que cada um conhece da empresa, suas perspectivas e experiências pessoais para o coletivo.
Aprendi que o consenso é quando todos suspendem suas crenças e convicções, se estiverem imbuídos de um propósito maior, algo que favorece a todos e nas organizações é o negócio, se o negócio estiver saudável e sendo atendido, os indivíduos terão espaço e oportunidade para seus projetos pessoais.
Quando buscamos equacionar os conflitos vamos nos conhecendo além da superfície, ocorre o consenso.
A força está no grupo. O indivíduo se encontra quando inserido no grupo, que só é forte se todos estiverem fortes, um resgata o outro,pois “a força da corrente é definida pelo elo mais fraco”. Uma relação saudável tem conflitos em função das diferenças. Ainda bem que há diferenças, elas enriquecem a relação. Colocando-se no lugar do outro. Valorizando o outro. E fazendo uma boa comunicação.
Não tenho mais medo de enfrentar os conflitos, já sei como utilizá-los a favor do grupo.Tenho medo sim, que as pessoas se acostumem com a inércia e que tudo vire paisagem, sem conflitos e sem consenso.